Meningite abordagem clínica na Pediatria – Programa de Educação Continuada Visio

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1. Etiologia da Meningite na População Pediátrica

Meningite Bacteriana: Agentes por Faixa Etária

  • Recém-nascidos: Streptococcus agalactiae (Grupo B), Escherichia coli e Listeria monocytogenes.
  • Lactentes e crianças maiores: Streptococcus pneumoniae, Neisseria meningitidis e Haemophilus influenzae tipo b.

O conhecimento da etiologia provável por faixa etária é essencial para a escolha empírica dos antimicrobianos, permitindo um início terapêutico eficaz.

Meningite Viral: Etiologias Comuns

  • Enterovírus, adenovírus, vírus herpes simples (HSV), vírus varicela-zóster (VZV) e, mais recentemente, SARS-CoV-2.
  • A forma viral, embora geralmente menos grave, exige diferenciação rápida da forma bacteriana para evitar uso desnecessário de antibióticos.

Etiologias Incomuns: Tuberculosa e Fúngica

  • A meningite tuberculosa ocorre principalmente em populações vulneráveis ou não vacinadas.
  • A meningite fúngica, especialmente por Cryptococcus, é mais comum em pacientes imunocomprometidos.
  • Nesses casos, a suspeita clínica e a intervenção precoce são determinantes para o prognóstico.

2. Avaliação Clínica: Reconhecendo os Sinais com Precisão

Manifestações em Lactentes: Atenção aos Sinais Inespecíficos

  • Febre ou hipotermia, letargia, recusa alimentar, irritabilidade, abaulamento da fontanela anterior, vômitos, diarreia e convulsões.
  • A inespecificidade dos sintomas nessa faixa etária torna o exame clínico detalhado indispensável.

Manifestações em Crianças Maiores

  • Febre, cefaleia, rigidez de nuca, fotofobia, náuseas, vômitos, sonolência, irritabilidade, confusão mental.
  • Esses sinais podem mimetizar outras condições neurológicas e infecciosas, exigindo uma abordagem diagnóstica estruturada.

Sinais Meníngeos Clássicos: Kernig e Brudzinski

  • Sinal de Kernig: resistência à extensão da perna com o quadril flexionado.
  • Sinal de Brudzinski: flexão involuntária dos joelhos à flexão passiva do pescoço.
  • Embora úteis, esses sinais nem sempre estão presentes, especialmente em lactentes.

3. Diagnóstico: Exames Fundamentais na Tomada de Decisão

Punção Lombar: Análise do Líquido Cefalorraquidiano (LCR)

ParâmetroMeningite BacterianaMeningite Viral
AparênciaTurvaClara
GlicoseBaixaNormal
ProteínaAltaLigeiramente alta
Contagem celular>500/mm³<500/mm³
Predomínio celularNeutrófilosLinfócitos
GramPode ser positivoNegativo
CulturaPode ser positivaNegativa

Exames Laboratoriais Complementares

  • Hemograma, PCR/VS, hemoculturas, eletrólitos, função renal e hepática, coagulograma.
  • Fornecem dados auxiliares para avaliação do estado geral e monitoramento terapêutico.

Neuroimagem: Quando Indicar?

  • Indicações: sinais de hipertensão intracraniana, déficit neurológico focal, convulsões focais, imunossupressão, presença de derivação ventricular (shunt), trauma cranioencefálico.
  • Tomografia de crânio ou ressonância magnética devem preceder a punção lombar nesses casos.

4. Conduta Terapêutica Inicial e Seguimento

Antibioticoterapia Empírica: Início Imediato

  • Neonatos: ampicilina + cefotaxima ou gentamicina.
  • Crianças maiores: ceftriaxona ou cefotaxima + vancomicina (cobertura para pneumococo resistente).
  • A administração deve ocorrer o mais precocemente possível, idealmente após a coleta de culturas.

Corticoterapia Adjuvante: Dexametasona

  • Pode reduzir o risco de sequelas neurológicas em meningite por H. influenzae e S. pneumoniae.
  • Deve ser administrada antes ou junto com o primeiro antibiótico, se indicada.

Ajuste da Terapia Após Resultados do LCR

  • A cultura e a análise do LCR orientam a descalonagem ou troca da antibioticoterapia.
  • Reduz-se a toxicidade e promove-se uma abordagem mais precisa, como suspensão da vancomicina em casos confirmados de meningococo sensível.

5. Monitoramento e Cuidados Pós-Acura

Avaliação da Resposta Clínica

  • Monitoramento da febre, nível de consciência, sinais neurológicos e estado geral.
  • Em casos refratários, considerar nova punção lombar para avaliar falha terapêutica.

Sequelas Neurológicas: Avaliação de Longo Prazo

  • Possíveis complicações: perda auditiva, déficits cognitivos, epilepsia e paralisia cerebral.
  • Avaliações audiológicas e do desenvolvimento neuropsicomotor são essenciais após a alta hospitalar.

Investigação de Imunodeficiências

  • Em casos de meningite de repetição ou etiologias incomuns, deve-se investigar imunodeficiências primárias ou adquiridas.

6. Prevenção: Pilar Fundamental da Saúde Pública

Vacinação

  • Imunizações contra Haemophilus influenzae tipo b, Streptococcus pneumoniae e Neisseria meningitidis (sorogrupos ACWY e B).
  • Manter o calendário vacinal atualizado é a estratégia mais eficaz de prevenção em massa.

Quimioprofilaxia para Contatos Próximos

  • Indicada em casos de meningite meningocócica.
  • Rifampicina, ciprofloxacino ou ceftriaxona podem ser usados conforme a faixa etária e condição clínica.

Conclusão

A meningite pediátrica exige vigilância clínica constante, ação rápida e manejo baseado em evidências. A familiaridade com os sinais clínicos, a interpretação correta dos exames e o início precoce da terapia podem mudar drasticamente o prognóstico.

Você está preparado para reconhecer os primeiros sinais, agir com rapidez e oferecer o melhor desfecho possível aos seus pequenos pacientes?

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